Professora de EJA resgata aluno que estava há 40 anos afastado da escola e celebra sua graduação
Após 40 anos longe da escola, o autônomo Wellington Ribeiro acreditou por muitos anos estar atrasado. Acostumado a sempre assistir as conquistas alheias da plateia, em 2019 ele decidiu fazer as pazes com o tempo, com a própria história e voltar a estudar.
O ímpeto não surgiu do nada. Foi graças a uma ação de busca ativa realizada pela Secretaria de Estado da Educação (Seduc) que o autônomo descobriu que poderia voltar a sala de aula através da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
“Eu tinha uma moto. Peguei essa moto e corri para onde eles estavam realizando as matrículas, no bairro Bela Vista. Lá encontrei a professora Renegilda e disse que queria voltar a estudar, mesmo aos 59 anos. Foi a decisão que mudou tudo. Eu sempre digo que ela me resgatou”, lembra.
Renegilda Soares, a professora a quem Wellington credita ter sido resgatado, é educadora da modalidade de Educação de Jovens e Adultos desde o início do programa, em 2016. Para ela, o trabalho de busca ativa lhe mostrou um impacto diferente do que estava habituada, após uma carreira na educação regular. “Eles (alunos EJA) têm muita capacidade. Eles só não tiveram a oportunidade de colocar aquela capacidade no momento certo. Mas quando a gente dá essa oportunidade em um outro momento da vida, percebemos o quanto ele é capaz, o quanto ele pode crescer, o quanto eles conseguem. Esse trabalho de busca ativa é o mínimo, mas o pouco que a gente faz, é muito para eles,” afirmou Renegilda.
De volta à sala de aula, Wellington ganhou não apenas novas perspectivas de vida, mas reconheceu também, nos professores e colegas de turma, uma nova família. Ele se emociona ao andar pelos corredores do Ceja Professora Maria Rodrigues das Mercedes, onde concluiu o Ensino Fundamental e Ensino Médio. “Quando eu cheguei aqui, me senti em casa. Ganhei uma outra família, aqui todos os alunos que eu estudei e deixei são meus amigos até hoje. Sinto muitas saudades daqui. Fico emocionado porque bate saudades dos professores, dos amigos. Até hoje, as minhas amizades aqui são como se fossem minha família”, conta.
De lá para cá, aquele primeiro contato entre aluno e professora ganhou novos caminhos, não imaginados por ambos no início da história. Após a conclusão da sua formação básica, ao término da 3ª série do Ensino Médio, Wellington decidiu que não pararia por ali. Ele logo iniciou uma graduação em Direito e, em 2024, seis anos após aquele encontro, aos 64 anos, se tornou advogado. “Mudou minha vida totalmente. Eu passei 40 anos apenas assistindo os outros e batendo palma. Na época, eu sabia apenas ler e escrever. Hoje não, hoje eu posso dialogar com as pessoas, então isso mudou a minha vida”, conta Wellington, entre lágrimas.
A professora Renegilda fala sobre o orgulho de transformar vidas como a de Wellington. “Quando iniciei na EJA, não tinha noção do impacto e abrangência do programa. Mas em pouco tempo se percebe que a busca ativa tem uma importância muito grande na educação, tanto que, atualmente, já abrange todas as outras modalidades. Ver aonde o Wellington chegou só me dá a certeza da importância do trabalho”, lembra Renegilda.
Assim como Renegilda, outros professores da Educação de Jovens e Adultos passaram pela vida do agora bacharel em Direto. Um dos mais celebrados e amigo de Wellington até os dias atuais, Roberivan Mariano, sabe bem do impacto que a educação pode ter na vida de quem um dia acreditou que sua chance havia passado.
“A importância é, acima de tudo, de resgatar esse ideal de projeto de vida. Na Educação de Jovens e Adultos a gente trabalha com o objetivo de que, mesmo diante das limitações e das dificuldades, eles possam retomar esse ideal de vida. Nunca é tarde para realizar os seus sonhos e a EJA veio para alimentar nas pessoas esse sonho”, afirma o docente.
Assim como foi com ele um dia, Wellington deseja transmitir a outras pessoas o incentivo que recebeu dos professores ainda no início da retomada dos estudos. Porta bandeira do programa, ele recomenda a EJA para quem ainda duvida do potencial da volta a sala de aula.
“Até hoje eu convido pessoas da minha idade. Digo que se precisar de ajuda eu consigo os contatos, que eu conheço diretores, tenho amigos que podem ajudar. Meu desejo é incentivar e mostrar que nunca é tarde”, finaliza.
Fonte: Seduc