Lula, Haddad e o “craque do jogo” para 2026
O presidente está em campo para “moldar” um Haddad candidato para 2026
Certamente foi de Lula a ideia de Haddad fazer o anúncio das medidas fiscais em pronunciamento de rádio e TV. Uma estratégia muito inteligente, muito. O presidente está em campo para “moldar” um Haddad candidato para 2026. Linguagem, postura, discurso, imagens, medidas: tudo no figurino do “herdeiro” de Lula.
O presidente só se recandidata em 2026 se a extrema-direita vier muito forte. Ele tem reiterado em todos os discursos que faz: vai entregar o governo em dezembro de 2026 cumprindo o que prometeu. Lula não está disposto a ter mais um mandato, quer fazer suas coisas, como gerir a aliança global contra a fome. Só será candidato à reeleição se isso for imprescindível. Haddad é seu nome.
O pronunciamento de Fernando Haddad mostrou que a equipe de marketing (não sei se do governo ou da Fazenda) fez um golaço. Tirou um tema espinhoso, cheio de especulações negativas, dos escaninhos da burocracia e dos escritórios da máfia rentista, que faz chantagem pelas redações de jornais e pelo BC. O pronunciamento jogou o tema nas redes sociais, numa perspectiva positiva: quem ganha 5 mil reais não pagará imposto; quem ganha acima de 50 mil pagará mais. Isso vai cair na boca do povo. Lula está cumprindo sua grande promessa de campanha antes até do prazo (era ao final do governo).
Outro gol: tirou de Haddad a pecha negativa de “taxad”, corte, corte, corte, corte. Ressignificou o ajuste fiscal ao dar a ele uma roupagem mais positiva, mostrando que os benefícios sociais não sofrerão cortes, e sim ajustes, como se alardeava à (extrema) direita e à esquerda (cirandeira). E a conta vai atingir a todos.
A estratégia também deu ao governo Lula a cara de um Haddad que fala à população, fala em justiça social, fala à classe média (quem ganha 5 mil, no Brasil, acha que está no andar de cima), cobra dos ricos, põe a milicada na roda para contribuir com os “sacrifícios”, pela primeira vez na história.
Quem fez o texto para Haddad teve a manha. Falou dos temas espinhosos de modo palatável, sem entrar nos detalhes, de um modo aceitável, que soa justo a quem ouve. E deixou claro o mais importante: tirar dos ricos para dar aos pobres.
Teve mais. O alinhamento com o PT. O pronunciamento de Haddad foi visto antes pelos deputados, senadores e demais membros do partido, numa sessão na sede do partido em Brasília. Neutralizou as críticas internas e deu ao partido a responsabilidade de brigar no Congresso pelas medidas. E o PT é bom de briga quando quer e se empenha.
Numa ação certamente combinada, todos os deputados estão destacando, inteligentemente, o fim da cobrança de imposto para quem ganha até 5 mil reais. É o que vai viralizar.
Agora é pressionarmos o Congresso para não avacalhar tudo. Haddad virou o alvo da vez. A Fossa de S. Paulo/UOL já começou hoje a campanha: mancheteou que Haddad estaria “sofrendo desgastes” pela demora no anúncio das medidas. Vem pancadaria por aí, porque o ajuste fiscal não foi o que a plutocracia queria.
Mas Haddad é o craque do jogo! Está de parabéns!
P.S.: Lula falou que venceria o mercado. E venceu hoje. Deu um belo de um drible nos parasitas do rentismo ao anunciar benefícios para o povo, medidas que tocam na desigualdade social (a tributação de renda é um dos maiores descalabros deste país). O mercado sentiu: pôs o dólar nas alturas e a Bovespa fechou em queda. Pode dar birra no corredor do cassino, seus crápulas, Lula venceu vocês de novo.
Fonte: Pensar Piauí